

Desceu só na estação. Não viu um degrau. Por sorte quase caiu. Ele a apoiou, pelo restante dos dias.
(microconto com 100 toques exatos, incluídos os espaços)
Hoje de manhã, num desses momentos em que olhei lá fora de mim, o sol roçava diferente a mesma folha, com aquela inclinação de outono que ele gosta de usar em abril.
Não foi hoje que abril se abriu, eu sei. Está aí há vinte e oito dias, quase se fechando, mas o sol decidiu outonar naquela folha hoje.
Claro que foi intencional, e escrever com luz na folha foi covardia.
O sol acariciava de um jeito tão passional o verde, que ruborizei. Fiquei hipnotizada por alguns segundos – daqueles segundos que me fazem querer ser deusa, só para prender e converter o tempo em alguma espécie de verdade e, dele cheia, esvaziar o container de todas as vontades.
Mas nem mesmo chego a ser humana, e sempre perco o jogo quando me meto com deuses: Apolo introduziu a cena e Chronos logo a encerrou.
O que me resta é esperar que, ainda sob o efeito de Apolo, encontre Atena, e ela me ajude a encarar o meio giro manco do planeta… Mais tarde, bêbada de selenofilia, vou-me jogar nos braços de Dionísio, e render meus olhos ao encanto de uma folha em branco.
!
o
ar
que
inalo
desce das
auroras negras
oculto no crespo orvalho
(,,)
e
no
afã
casto
e pecador
descansa o gato
após lamber pelos miados
§
o
nó
sob
o viés
da crença
é cego ao brilho
dos olhos da experiência
o poeta se cansou cedo
ou foi o medo ao ver a pedra
que tanto lhe fartou as retinas?
ele não sabia se rolava ou embalava
a pequena rocha aninhada
no início da própria estrada
havia uma vida
onde não havia sentido
não havia destino
antes da pedra
então vista
naquele caminho
havia uma pedra e Julieta a moldava
dando sentido à tola jornada
que já cansava o Carlos menino
mas o topo da montanha exigia
o pai ao lado da pedra
a pedra ao lado da cria
e chega o mais absurdo dos dias
a filha não resiste à pedra
e o pai vai ao encontro da filha
esse cansaço não é meu
é de ninguém
e mesclou-se à vontade
que não é minha também
nem cansaço deve ser
talvez uma vasta acepção
de todas as decepções
“que se me entranha…”
acho que Pessoa acertou no Álvaro
*
a
fé
que
brota
nas dores
fornece a seiva
da razão áurea das flores
O desafio não é escrever isso ou aquilo
o desafio é viver o que se escreve
ou aquilo que quer ser escrito
há um desejo que pede
anseia
esperneia
exigindo registro
é desafio da vida
que busca a luz
a fenda
a réstia
a brecha de mim escondida
o braço se estica
mas não alcança a chave
que está lá
lá
bem lá
presa no cinto do carcereiro
e a cada noite
o dia vira morte não escrita
aí fora
aqui dentro
no cativeiro da espera
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