subespécies humanas

Sendo espectadora de certas notícias e fatos, é inevitável a pergunta: “O que motivaria algumas atitudes selvagens e ignorantes de alguns exemplares da espécie humana?”

Pensei numa hipótese, aparentemente, plausível: Quando os biólogos procederam à nossa classificação taxonômica, detiveram-se no “homo sapiens sapiens”. Optaram por não identificar outras subespécies, por uma questão, talvez, de vaidade perante à natureza, uma vez que faziam parte do objeto classificado. E essa vaidade ainda os motivou a repetir o termo “sapiens” para essa única subespécie reconhecida atualmente.

Mas há, claramente, outras subespécies entre os que chamamos de humanos. Duas evidenciam-se entre elas: “homo barbaris” e “homo imbecilis”.

A primeira é composta por predadores bárbaros (e imbecis), não talhados para o convívio social.

A segunda compõe-se de seres sem um mínimo de juízo de valor, capacidade crítica, atenção ou empatia – ainda quadrúpedes no espírito!

Os bárbaros e imbecis escondem-se entre as demais subespécies humanas, devido à sua aparência. Isso porque, no revestimento da espécie “homo sapiens”, ainda que haja pequenos detalhes distintos – provenientes da etnia, do sexo ou da idade, por exemplo – eles são, de fato, irrelevantes para considerar-se ou não um espécime como um ser humano. Ainda assim, esses e outros invólucros de consideração relativa tem um valor absoluto para muitos integrantes dessa espécie, de um modo um tanto negativo. Não se chegou a um nível evolutivo comum, em que todas as almas humanas são capazes de enxergar e reconhecer outras almas humanas.

Acredita-se apenas no que os olhos da matéria veem, até onde alcançam, e no que os ouvidos da matéria ouvem, muitas vezes, de bocas malditas.

Benditos
os
macacos
sábios,
que
poucos
“sapiens”
veem,
ouvem
ou
deles
falam
e,
menos
ainda,
entendem.

É possível, no entanto, identificar bárbaros e imbecis, quando externam suas características peculiares, por exemplo, apartando, desrespeitando ou agredindo negros ou brancos, mulheres ou homens, jovens ou velhos, homos ou heteros, pobres ou ricos, bonitos ou “feios”, crentes ou céticos, canhotos ou destros, “perfeitos” ou imperfeitos, ou quaisquer outros grupos humanos identificados ou inventados, devido a suas opções, opiniões, histórias, culturas ou características superficiais diferentes.

Esse atraso na evolução, inerente ao “homo barbaris” e ao “homo imbecilis”, deve-se a um desenvolvimento insuficiente do cérebro racional, e esse fato afeta a sua capacidade (ou necessidade) de julgamento. Sentem-se ameaçados diante daquilo que não compreendem ou daquilo que é diferente do que veem no espelho. Com um cérebro míope, aos bárbaros e imbecis não é fácil distinguir uma ameaça real de uma imaginária, ou mesmo posicionar-se com interesse saudável e respeitoso pelo que é “diferente”. Limitados por uma mente pouco desenvolvida e delirante, na ilusão de haver um ideal de aparência, opinião ou vida, aplicável a todos, não são capazes de perceber o quanto poderiam desenvolver sua mente tacanha, aprendendo sobre o mundo que os cerca e sobre si mesmos com o diferente, ou o novo. A covardia ou o medo perante o desconhecido trava sua razão, deixando palavras e atos ao governo de impulsos primitivos e, hoje, um tanto descabidos. A incapacidade racional faz com que fujam ou ataquem aquilo com que não se identificam.

Os bárbaros e imbecis podem também ser comparados a alguns animais, de outras classificações taxonômicas, que se utilizam dos mecanismos de defesa antipredação. Liberam espinhos, substâncias gosmentas ou líquidos venenosos, mimetizam-se, ou utilizam ataques de resistência, porém, agem assim, ou até de modo mais drástico, diante de predadores imaginários.

Quando observamos as ações e as palavras dessas subespécies, uma primeira reação é a indignação ou a revolta, naturalmente. Mas, sob o domínio da razão, é possível notar como seus espécimes são dignos de pena, pois são limitados demais para perceber coisas elementares, como a leveza da simples aceitação do outro como é, ou deseja ser. São pobres espíritos incapazes de gozar do poder e da alegria de observar a diversidade sem, por ela, sentirem-se ameaçados.

filme 2001 – Uma odisséia no espaço

É certo que cada um de nós, humanos, guarda em si doses de irracionalidade, egocentrismo e preconceitos, mas a diferença está na capacidade ou não de colocar tudo isso sob o domínio do bom senso e da consciência, no uso ou não da empatia, enfim, na qualidade do filtro de sensatez, utilizado ao longo da nossa breve existência nesse mundo, filtro esse, deficiente ou inexistente nas subespécies em questão.

De fato, eu gostaria de acreditar que toda essa “teoria” é uma grande bobagem, e que as barbaridades e imbecilidades praticadas por alguns “homo sapiens” são exceções, e que a regra é a racionalidade – que talvez sejam atos de mentes racionais, porém deturpadas por traumatismos, péssima educação ou deficiência química no cérebro e que, por apresentarem-se em número reduzido, podem ser controladas. Mas as vemos em excesso, executadas inclusive por bárbaros e imbecis com poder político, ocupando posições que lhes facultam lesar e destruir a nossa e outras espécies, tanto perpetuando a miséria e a ignorância, quanto com autoridade para conduzir nosso mundo a guerras irracionais e catastróficas. Diante desses e de todos os absurdos a que assistimos diariamente, é realmente difícil acreditar que somos todos de uma mesma subespécie “sapiens”.