Melancolia

Hoje a vejo assim, destelhada,
Por intrusos fantasmas, habitada;
Nem de longe lembra a morada
Daqueles idos tempos felizes.

Morreu até o velho cipreste,
Que ela pintou da janela oeste,
Sob os sussurros da brisa leste,
Numa explosão de matizes.

Depois que a vida foi embora,
Surrupiando os risos de outrora,
Já não fulgura qualquer aurora
Nas águas mortas do pântano.

O tom onipresente da podridão,
Aumenta o vazio no meu coração,
Restando apenas uma breve noção
Dos áureos tempos de encanto.

(De Nardélio F. Luz)

Poema constante na contracapa do livro A Clausura de Kematian e outros contos insólitos.

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Agonia

Desencantos mil de trevas pervígeis,
Em que se perpetuam delírios febris;
Numa orla que a luz, espada incisiva,
Não penetra a horda de imagens vis.

Redemoinhos de desalentos gélidos
Osculam a ardência do suor pegajoso;
O corpo definha dentre o gelo e o fogo
E a mente flutua no limbo brumoso.

A busca maquinal por futura manhã
Aspira uma trégua pra alma cansada;
Onipresente ansiedade, pior das vilãs,
Delegando crueza à servil madrugada.

Não há clemência na zona limítrofe,
Submetido a ritos e delírios insanos;
Aonde a luz se despe de todo o poder,
Incutindo aflição a esse orbe arcano.

Uma noite, quiçá, um sonho retorne,
Conduzindo um bálsamo pra solidão;
O horror da insônia afrouxe esse laço,
E o sono aplaque este velho coração.

(Nardélio Luz)

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