Tempos confusos esses em que os humanos habitam o planeta. Confusos humanos perdidos em sua existência inconsciente e inconsequente sobre um esférico presente.
Não, Fulano, esse presente não está embalado. Pare de rasgar e destruir o que você considera embalagem, ou laços e fitas sem importância. Você não encontrará nada que valha tantas penas abaixo disso. Os detalhes colocados na superfície do presente não são apenas enfeites, e não são descartáveis. São elementos que o integram e sustentam sua vida, e deles fazem parte os outros mais de sete bilhões de detalhes humanos como você.
Talvez você não saiba, mas, sempre que uma vida, humana ou não, é desrespeitada, desvalorizada, rasgada e jogada no lixo, o presente torna-se menos presente na sua vida equivocada. Há menos presente e mais passado a cada pedaço de planeta rasgado, e sua vida está no presente… neste presente.

Seu maior engano, Beltrano?
Você tenta arrancar a quota do presente que não lhe pertence da mão do outro a qualquer custo. Na sua mente egocêntrica, você acredita ser algo mais do que é qualquer outro humano a quem foi precariamente entregue esse presente, e furta-se às regras básicas de uso de tudo que pertence a todos: ética, empatia, respeito e responsabilidade.
Veja como seu espírito é ilógico e ignorante: você acredita que a embalagem do esférico presente não tem valor, mas a embalagem da sua espécie tem. Acredita que a cor e a forma da sua própria casca, ou o invólucro que ela utiliza para usufruir o presente, são mais importantes que o seu conteúdo, ou que determinam algum tipo de padrão de qualidade superior.

Imbecil que é, você viola, mata e destrói cada pedaço do presente ao seu alcance, a fim de dominá-lo. Mas se você não acordar, sabe qual será seu futuro, Sicrano? Será o de uma embalagem vazia e descartável dominando um pedaço de esfera arruinado, e apenas pelo tempo que sua breve vida ou o resultado da sua ignorância permitirem.
(Sandra Boveto)