Eu não sou político, sou poeta Portando me bastam os corações É apenas deles que estou falando Nada demais ou de menos. Como poeta eu creio na arma da palavra Não penso que rifles nas mãos do povo sejam um caminho para a paz Mas sempre será para o caos. Como poeta eu creio que as crenças são sagradas E que é meu dever defendê-las como tais Não só as minhas. Mas a de todos os demais Os deuses são iguais Deus algum é moeda de troca ou discurso de palanque Deus algum se impõe sobre outro como única verdade Pois a minha crença se curva a do próximo visto que o próximo é deus.. Como poeta eu prezo pelo amor Não só o meu nem a visão pessoal que eu tenha dele Mas todos as formas de amar São eternas Eu não aceito que um filho morto possa ser melhor do que um filho gay Toda família é sagrada na minha lei. Como poeta eu cultivo o respeito pela terra Pelas mãos morenas das serras Daqueles que nos alimentam Eu me oponho à derrubada das florestas e ao envenenamento dos rios. Como poeta eu entendo a velhice por sabedoria Detentora do conhecimento e da experiência. Os idosos são ancestrais Jamais eu poderia apoiar o abandono a estes ou às viúvas. Como poeta eu admiro a mulher Eu considero o sagrado feminino como força vital da criação Nunca como fraqueza ou fraquejada As mulheres são nossas mães e esposas As filhas que nos dão o pão do futuro. Como poeta eu luto pela liberdade Não só a minha, mas a de todos irmãos Principalmente daqueles que tenham opiniões opostas as minhas Pois isso é a síntese maior da liberdade Aceitar e compreender diferenças Ouvir e ser ouvido Aprender e ensinar. Eu sou contrário a discursos de ódio que insuflem discórdias pois penso que a democracia é a base do diálogo e do entendimento. Isso sou eu, como poeta. Não é apenas uma ideia partidária. Eu nunca estou falando sobre política e de uma certa forma, eu sempre estou.
Era
o mác- ximo na favuna… Sabonete Phebo, chique no úrtimo grau e desodorante
Avanço.
Você
não entende nada de pobre.
As
mulhé todas usava um pior ainda…Leite de rosas, não tinha um barraco que não
tivesse esse trem.
No
sol… A bagaça começava derreter e virava uma desgrama só.
Alcione
deve usar até hoje…A marrom.
Como
se ninguém visse a cor.Tem que por amarrom? O disco vinha assim… Alcione
amarrom
Já
cedo… A nega do barraco de cima saia na janela e gritava pra nega do barraco
lá dos quintos:
–
Shirlei, amarrom no Silvio Santos!!!!
Acordava
a favela inteira!
Isso
foi antes do celular, depois foi pior, porque as pobre ligava pra Bahia achando
que tem que berrar no celular, pra chegar na Bahia o som:
–
Maíiinnha, chama painho que to de celulare..
Domingo
era o inferno para dormir na favela, tinha o Sidney Magal berrando em todos os
rádios…
“é
a cigana sandra rosa e madalena”
são
três?
“é
a mulher com quem eu quero me casar”
Não
tinha uma pobra na favuna que não quisesse ser Sandra, Rosa ou Madalena.
Depois
teve um português ainda pior…
”
OOOO bate o pé, bate o pé,bate o pé”
Mais
xarope era impossível!
Os
favelados tudo adora essas coisas,
Leal…Roberto
e leal…
Domingo
era terrível, as tvs ligadas nos zúrtimos volumes, essas bregaiada toda
cantando,o Lombardi.
Já
cedo a Shirlei grita para Sheila, pobre adora nome americano pra gritar da
janela, que soa chique.
Nome
estrangeiro,
As
mãe punha William, Wellington, Evelym, Elder, e depois berrava, chamando a
cambada num taco só:
–
Ui, Ue, Eve, El !!!!
A
minha economizou que num só Maáaaa, vinha todo mundo pra dentro.Maria, Mário,
Mariano.
Tudo
com Ma, economiza chamá.
Pobre
adora economia.
Soca
seis criança no roleta junto e empuuuuurra.
Os
menor vai saindo pro lado, por cima do cobrador, os mais rápido passa pru baixo
e o maior esbudega nos ferros até a biboca virar, estalando o zóio.
Pronto,
paga um filho só.
Eu
tenho PHD com pesquisa de campo.
Ano
entra, ano sai…E o pobre brasileiro…
Continua
igual?
Ingual
nada.
Muda
tudo, as moda, as música brega, os ônibus…
É
cada corte de cabelo pior que outro
A
nega passa o ferro no pixaim, até alisar a quiçaça na marra, toca fogo no
barraco, sai até fumaça da cabeça da bicha, parece um endemoiniamento.
Eu
tinha medo de ver minha irmâ alisar o cabelo,
Despois,não
feliz…faz luz.
Dai
enche de notrox e sai com aquilo no poeirão esperar o busão da iscola.
Deus!
Vai
colando de tudo na moita servagem…
É
foia seca, é gaio darve, é chepa do buteco que avoa.
Vai
colando lá.
Chega
na iscola linda. Parecendo a Flora e fauna.
Você
não entende nada de pobre.
E
festa de favelado… É quase o inferno na terra.
Começa
dez dias antes, cás pobra tudo avisando o morro todo e mais três morro vizinho.
Sai
emprestando panela, cadeira, colchão, pra acomodar a cambada, dana fazer
enfeite de tudo que é coisa velha, enfeite de garrafa pet, enfeite de papel
crepom, enfeite de E.V.A.
O
barraco fica pior que uma árve de natal e sete horas da manhã os convidado já
vem invadindo tudo, com uma fome do agreste, que pobre nunca come antes de ir
em festa dos outros.
Dá-lhe
lanche de boi ralado(carne moída se diz) e churrasco trinca dente, que assim
demora horas até a gente engolir o nervo da carne e pegar outro pedaço.
Dai
é toda a bregada rodando na vitrola…
Amarrom,
demonhos da garoa, Magal, sandra rosa e madalena, sabe deus até que horas,
Que
pobre não vai embora, vai fazendo mais vaquinha, para comprar mais churrasco,
trazendo mais disco brega, chamando mais morro vizinho, roubando todos
enfeites,até alguém escorraçar.
Ou
até sair uma briga, a acabar no risca faca, no tome bala, no tabefe, na
pobraiada correndo e ainda falando mal…
–
Já fui em festa miór.
E
no entanto eu me orgulho de ter nascido no morro, ter acordado aos domingos,
com os gritos na janela, ter vindo do povo pobre, que está sempre brincando e
rindo da própria sina.
Eu
me sinto abençoado de ter feito meus brinquedos, com alguns papeis coloridos e
linha de carretel, pois que eles valeram mais, voando livres no céu.
Eu
não troco infâncias ricas, fechadas em condomínios, pela que tive, descalço,
com gente humilde e feliz.
Que
com qualquer meia boca, faz uma boca completa, uma bela gambiarra, um gato no
poste de luz e vai sambando e levando, como der para levar, como der para se
virar, com dez filhos na catraca, da grande roleta russa.
Pois
como dizia o samba, sabe deus de que breguice…
Sou cúmplice do que escrevo.
Quem rabisca aqui, não sou eu.
É aquilo que tento esconder de mim….
A sílaba morta que engoli ha pouco,
No veneno do cale-se.
No cálice de gim.
A sutileza do psicopata, perseguindo sua vítima Estudando seus hábitos. Sugando sua vida antes de furtá-la. O que escrevo me mata a cada linha Pega-me às goelas, enforca-me a garganta. Lambe-me o pus. Esconde o meu cadáver no quintal, Prega uma cruz. E espera o funeral.
O meu poema incompleto
Nasceu de nego de gueto
Semi nu e analfabeto
Mandado num papo reto.
Cheio de lixo e dejeto
Ressurrecto e profano
Ao qual se diz vá de retro
De tão horrendo ou humano.
O literato acadêmico
Falou que não era bom
Por usar tema polêmico
Chamado de anjo urbano.
E sair fora de tom.
Mas foi levado na lábia
O meu poema bufão
Com uma ginga mais sábia
Que a própria laia do cão
Subiu dez mãos pela saia
Bateu tapas no balcão
Armou uma maracutaia
Sequestrou seu coração.
E vai tão cheio de si
O meu poema ladrão
Acima do tititi
Debaixo do ribeirão
Da asa do bem-te-vi
Ao olho do furacão.
Assinado por decreto Com seu novo dialeto Que é quase anjo dileto Embora se diga ateu O meu poema incorreto Que não se rendeu ao seu Palavra pobre de preto Soneto do Zebedeu.