Hoje de manhã, num desses momentos em que olhei lá fora de mim, o sol roçava diferente a mesma folha, com aquela inclinação de outono que ele gosta de usar em abril.
Não foi hoje que abril se abriu, eu sei. Está aí há vinte e oito dias, quase se fechando, mas o sol decidiu outonar naquela folha hoje.
Claro que foi intencional, e escrever com luz na folha foi covardia.

O sol acariciava de um jeito tão passional o verde, que ruborizei. Fiquei hipnotizada por alguns segundos – daqueles segundos que me fazem querer ser deusa, só para prender e converter o tempo em alguma espécie de verdade e, dele cheia, esvaziar o container de todas as vontades.
Mas nem mesmo chego a ser humana, e sempre perco o jogo quando me meto com deuses: Apolo introduziu a cena e Chronos logo a encerrou.
O que me resta é esperar que, ainda sob o efeito de Apolo, encontre Atena, e ela me ajude a encarar o meio giro manco do planeta… Mais tarde, bêbada de selenofilia, vou-me jogar nos braços de Dionísio, e render meus olhos ao encanto de uma folha em branco.