Pernalonga e Lu

Eu sabia que era ridículo. Agora tenho que aturar esse povo bucha me encarando desse jeito. Odeio gente que encara, ainda que sem querer. Gente mala! Cidade pequena é isso – a gente bota algo diferente e taí, ó, vira atração. Uma coisa tão simples, tão sem graça… Tá! Zuada, eu sei. E agora tenho que aturar esse vegetal de fim de feira, pidão, achando que vou levá-lo pra casa… Só que não. Ninguém merece. Ah, alguém merece sim.

Sei de muita gente que merece ser encarado por esse cara de cenoura com olhos de Pernalonga.

Quem inventou o “ninguém merece”? Véi, quando eu fizer 15 anos, tudo vai mudar. Minha mãe pensa que vive onde, pra me fazer usar isso? Só por que é a primeira vez que ando de buzum sozinha? Caraca, viu! O pai acha que “caraca” não fica bem na boca de uma moça como eu. Caraca! Será que despenquei de algum OVNI? Eles não devem ser meus pais. Nunca chega meu ponto, e o homem-cenoura não se toca de jeito nenhum. Vou mudar de lugar. Deu ruim. Ônibus lotado. Meu primeiro buzum, lotado e sem o Plínio. Tá! O nome dele é mais ridículo que essa coisa aqui, mas o Plínio, pelo menos, ia dividir o olhar do Pernalonga cenourento comigo, com aquela boina que ele usa desde moleque pequeno. A gente andava de van na época. A moça da van morreu semana passada. Tadinha da mãe, ficou bolada com isso. Depois da van, veio a wagon da vizinha. Tinha aquele bebê que chorava todo dia. Como alguém pode deixar um bebê berrando daquele jeito… “bebeberrando” – será que isso que é cacofonia? Ca-cofonia, caco-fonia, cacofo-nia, cafofo… mia… Tadinho do Cafofo! Vomitou bola de pelos duas vezes hoje. Ai, que merda! Esqueci os fones de ouvido de novo. Ah, tudo bem – o pai fala “merda”. Cadê meu ponto? Será que perdi? Nossa! O Leo vai me trollar até a eternidade por isso. Ufa! Não perdi. O cenoura capotou. Hahaha! Deixou os olhos pernalongudos dele desabarem sobre a cara de cenoura. Vou parar de pensar pra ele não acordar. A Gigi sempre diz que penso alto. Ela é meio sensível – ou sensitiva? – como é mesmo que se diz nesse caso? Gente! Esqueci meu estojo. E agora? “Agora vamos comer amora.” – Ai, vovó, que saudades! Aquele pé de amora era o crush das férias. Tinha o Palito. Ele era tão fofo… por que será que colocaram o nome de palito num gato tão gordo? Por falar em gato, o coelho acordou. Será que é o ponto dele? Oba! Levantou. O que é que ele tá pegando? Seria a cenoura? Parece mais um palito. Putz! Uma bengala?! Ai se o pai ouve meu “putz”… Caraca! Ele encara todo mundo. Puta que pariu, “PNE”?! Eu não presto. Ele é cego. E você é uma retardada, Lu.

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