Não é sempre que posso estar aqui. Por isso estoco-me de silêncio para ficar na parte de dentro das manhãs. Porque eu procuro. Procuro alcançar melhor a superfície contrária dos barulhos, uma vez que o espelho treina em mim olhos já bem desistidos de gritar. Procuro a pausa do que não ouso, mas ouço de involuntária nudez o coração aos sopros. Quase sempre sofro de entressafras no sorriso difícil de tudo. E mudo. Estudo os sensores das palavras enquanto isso, para ajudar na soltura do penúltimo precipício ou quem sabe, para a escalada das submersas camadas do que está apto a não ser. Calo-me nas calamidades, porém, não posso esquecer que há os possíveis timbres da beleza. E continuo. Sem desmerecer. Remover esses entulhos – nada opcionais – está me devorando por causa da memória e seu futuro. Mergulho de frio na pedra movediça do pensar e anseio perguntar sigilos aos domicílios em que me deixei morar. Olha, agora achei um rastelo de pentear areia! Queria arrumar os canteiros do acaso. Esvaziar alguns vasos. Talvez desabar esses muros de arrimo brotados no peito quando da invasão de coisas tão menores. Tenho rumores do mundo. Ainda tremo e me incomodo de urgências. Fecho os cômodos da casa nunca mais inaugural do sonho. Fecho o quintal e deserto meus litorais em litros de leituras, pequenas fúrias, ossos e ninhos, no fundo do que não sei, pois não saber é a extensão mais forte do abandono. Abandonar não é perder. É não olhar. Eu escolho o cansaço quando escrevo, para salvar os nervos da flor que armazenei num tijolo do terraço, mas sinto sono. Não. Não sou a dona desses medos. Dormir atinge-me mais longe do que os lugares me fogem. Abrange anjos antigos quando arranjam-me de música, em plena afasia do que resiste. Anestesia as pedras antes que perfurem a pele transparente dos vidros. Abriga em mim a minha rápida janela. Lapida-me nela. Lápide moída. Menos cega… E me prossegue.
