Móbiles de amizade

(Um belíssimo e gentil soneto-presente recebido do talentoso poeta e amigo Alufa-Licuta Oxoronga, inaugurando seu espaço no blog)

O aporte da vida, em inevitável panfleto,
É um caminho traçado em pedras de cais,
Pétalas lançadas em improváveis quintais
Pavilhões erguidos a um sopro de coreto.

A nervura da vida, em desenho de soneto,
Tem escrita de lua, de mar e solos eluviais
Cintila os afetos em descortinos comensais
Em um ruflar de carinho por Sandra Boveto.

Em candelabro de cores, em móbiles de ser,
As nossas crisálidas tem rico amalgamento
Tal qual um artista, aos recurvos do atelier,

Escolhe cada cor em recursos de pigmento,
Aprouve, Sandra, em um novo blog enaltecer
O Vi(vendo) a vida em letras, enorme talento.

(Alufa-Licuta Oxoronga)

Crédito da imagem: Everton Medeiros

Abaixo uma biografia sui generis, poeticamente descrita pelo autor:

“Bio/Grafia: Alufa-Licuta Oxoronga, inconsútil vivente. Nascido em útero envelhecido. Em tempo de calmaria. Uterinizado por dentro feito magma. Feito avessado moinho. Desde molecote tem parido angústias. Tem gestado grãos em avessamento de moinho. Ainda menino se achou rabiscador de terreiros. De palavras. De desenhos. De sonhos. O palavreado mais parecia brisa ao entardecer. Os desenhos, orvalhos se entregando ao sol. Os sonhos, caminhos brotados de tempo. Mais tarde se descobriu apanhador de silêncio e solidão. De tanto escrever, pintar, sonhar e sentir, pulsou para dentro de si um gosto amargo de ser. De um existir-existindo que mais parecia negros escorpiões nas fendas escuras das paredes de taipa. Mais parecia a mudez de uma madrugada em tempo de intermitente chuva. Desde então tem trilhado o inóspito caminho da esperança. Em espera e andanças. Em agônicos (e diários) sentires. Dos esgarçados verbos e do entrelaço da fala e da escuta tem feito o seu existir.” (Alufa-Licuta Oxoronga)

Clique aqui para conhecer mais sobre o autor e sua riquíssima obra, em seu perfil no Facebook.

Melancolia

Hoje a vejo assim, destelhada,
Por intrusos fantasmas, habitada;
Nem de longe lembra a morada
Daqueles idos tempos felizes.

Morreu até o velho cipreste,
Que ela pintou da janela oeste,
Sob os sussurros da brisa leste,
Numa explosão de matizes.

Depois que a vida foi embora,
Surrupiando os risos de outrora,
Já não fulgura qualquer aurora
Nas águas mortas do pântano.

O tom onipresente da podridão,
Aumenta o vazio no meu coração,
Restando apenas uma breve noção
Dos áureos tempos de encanto.

(De Nardélio F. Luz)

Poema constante na contracapa do livro A Clausura de Kematian e outros contos insólitos.

Para conhecer mais sobre o autor e sua obra, visite seu perfil no Facebook e também seu blog

Igualdade?

O dia a dia é a luta
A batalha a ser vencida
Sobreviver uma disputa
Uma guerra ensandecida.

Ser lembrado é um privilegio
E ser esquecido uma realidade,
Só não ensinaram no colégio
Como entender esta verdade.

Mas que colégio freqüentamos?
Qual a educação que tivemos?
Só se forem as ruas por onde andamos
Ou as dificuldades que vivemos.

Já quis que me estendessem a mão
Ou que minha voz tivesse eco
Hoje já não cobro nem compreensão
Já me bastam as migalhas do castelo.

Seria utopia o mundo sem mazelas
Mas já não seria nada mal
E a vida muito mais bela
Se tudo fosse um pouco mais igual.

Para o engravatado ou o menino sonhador
Que por hoje esquece a própria fome,
O frio, o abandono e a sua dor
Para lembrar um pouco dos caminhos do homem.

(Marcio Muniz)

Sua poesia

a garganta vibra
enquanto canta
tanto quanto encanta
entoa em bela melodia
o que pra muitos soa música
pra mim sua poesia

(Everton Medeiros)

Poema selecionado no XXVI Prêmio Moutonnée de Poesia.

Everton Medeiros é engenheiro e Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil. Iniciou na escrita no ano de 2000, com a elaboração de roteiro cinematográfico (gênero ficção científica) voltado ao mercado norte-americano. Em 2001, participou de diversos concursos desse gênero nos Estados Unidos, onde registrou seu primeiro roteiro de longa-metragem. Conta com diversas participações em antologias de poesia e prosa, no Brasil e em Portugal. Entre seus próximos projetos estão o lançamento de um livro de poesias e um romance de ficção científica.

Além da escrita, tem como hobby a fotografia e a astronomia, suas observações e seus registros.

Habitat II

I
Insistem os medos por dentro da pele,
escondendo os órgãos, o sangue, em todos
E nem sabemos o que nos falta,
do que fomos apartados algum dia,
porque nunca estivemos presentes sequer em nós
E então escavamos o que já está muito seco,
em busca de água, como toupeiras, javalis
Ou mergulhamos, invisíveis baleias azuis,
para gritar até que o silêncio enfim respire

II
Procuramos sempre a ilusão
no que é o inverso de tudo, com ansiedade,
o ar preso, a resposta esperada
em bolhas de vidro que repetem
a neve, cenas impossíveis
de um idílio sem calor, líquidos, pulso
E se pensarmos bem, sim, jamais tivemos
um lugar só nosso, onde morar,
defesas psicológicas, miméticas, abrigo

III
Amanhã, talvez, nem nos lembremos de quem somos
ou quem são os outros, porque não conseguimos
nos entender ou ao nosso século,
a nenhum deles, o que dizem e o que dizemos
E somos só isto mesmo: animais solitários,
tentando a sorte, insistindo no tempo
Até que alguma palavra caia, por azar,
castigo ou revelação,
e, enfim, possamos
aceitar.

(De Alberto Bresciani, em Fundamentos de Ventilação e Apneia, publicado pela Editora Patuá)

Eis um livro repleto de poesias que tiram o nosso fôlego – aquele das superfícies -, e concedem-nos o ar renovado na profundidade de pensar sobre o que somos.

Fundamentos de Ventilação e Apneia – Editora Patuá

Cardume

É preciso calar,
porque em silêncio respiramos melhor,
o diafragma está livre e ondula,
brânquias secas por fora,
mas que engoliram o mar

A respiração assim não amarra veias,
não arruína enredos,
não condena desfechos,
garante mais uma cena,
outras centenas delas,
e, dependendo do ritmo,
abafa o terror da trincheira

a mudez deixa todos os golpes
abaixo das bordas do cardume,
da pontaria dos bicos,
mandíbulas, dos dentes

Não ditos, o baque, a ruptura, o tapa
são nossos, só nossos, não ferem
– armadas se esquecem na rocha.

(De Alberto Bresciani, em Fundamentos de Ventilação e Apneia, publicado pela Editora Patuá)

Eis um livro repleto de poesias que tiram o nosso fôlego – aquele das superfícies -, e concedem-nos o ar renovado na profundidade de pensar sobre o que somos.

Fundamentos de Ventilação e Apneia – Editora Patuá

Bisões

E seguimos como bisões,
olhando para a frente,
em disparada, fugindo
de absolutamente nada
e de quase tudo

No caminho outros bisões
se juntam ao grupo
e continuamos todos,
aos atropelos, na mesma rota

Corremos, nós os bisões,
para onde não sabemos
em uma pradaria fictícia
que, a exemplo dos rios,
é outra a cada migração

Olhamos para a frente
e nos perguntamos,
os olhos bovinos,
se este é mesmo
o nosso lugar.

(De Alberto Bresciani, em Fundamentos de Ventilação e Apneia, publicado pela Editora Patuá)

Eis um livro repleto de poesias que tiram o nosso fôlego – aquele das superfícies -, e concedem-nos o ar renovado na profundidade de pensar sobre o que somos.

Fundamentos de Ventilação e Apneia – Editora Patuá

Cegueira irreversível

A movimentada Avenida da Liberdade, em Braga, adotou-o sem cerimónias. Cerimónias para quê? Era apenas mais um, mais um cisco a evitar que entrasse pela vista adentro. Nunca se sabe, podia ser contagioso.

Como um pedaço de lixo, trazido pelo vento, ali aterrou e foi-se incrustando na paisagem urbana, junto ao “Café Vianna”.

Mendigar foi a única saída para um diagnóstico cruel – cegueira irreversível – ainda na adolescência. Um fardo para os pais enquanto viveram. Depois, entregue à própria sorte, experimentou a caridade de várias instituições. Afinal, “caridade” tinha uma definição estranha. Entre apalpadelas e tropeções, lançou-se num mundo mais negro do que a escuridão provocada pela cegueira. Por sorte, ou imposição das circunstâncias, abriu os olhos da mente.

No seu arquivo mental, ia alojando milhares de passos: passos de gente. Uns com pressa, outros nem por isso. Havia passos apaixonados e passos mal-amados. Passadas aventureiras e passinhos covardes… E nesse passadiço de transeuntes foi colecionando pegadas…

Bem cedo, de sapatilhas e perfume barato, chegava a que encenava o papel de mulher a dias, lá em casa. Com uma muda de roupa na mochila, despia a mulher a dias e virava a das mil e uma maravilhas. Pedia um café só para poder usar a casa de banho. Mais tarde, consoante a sorte, haveria de voltar e, desta vez, pediria uns bolos para os miúdos e, mais uma vez, trocava de personagem. Mesmo sem ver, sentia-lhe o estômago revolto ao pegar numa nota amarrotada de dentro da mochila e percebia o quanto teve de engolir para matar a fome às crias. Para o empregado que a atendia, diariamente, não passava duma tarada por doces, jamais descobriria aquele dois em um.

E apelidavam-no de cego.

Reparava no empresário de sucesso. Reparava nele por causa da aflição da gravata. Mal comia, mal respirava, mal vivia, enterrado em preocupações relacionadas com o trabalho. Em casa, a esposa e os filhos de malas aviadas e ele nem percebia. Estava demasiado ocupado: mal comia, mal respirava, mal vivia o que de melhor tinha para viver… até que perdeu tudo.

E o cego era ele?

Surgiam bandos de turistas, ávidos de cliques fotográficos. Fotos em série, para mostrar nas redes sociais. Tão míopes, nem desconfiavam dos restos de gente embutidos na arquitetura paisagística. Nada que não se resolvesse… com um programa sacado da internet, claro. O ceguinho pedinte é que tinha problemas de visão.

Entregue à escuridão, às vezes sentia olhos de criança colados na sua figura velha e gasta – velha como a Sé de Braga e gasta como as pedras da calçada. Só podiam ser de criança. Eram os únicos que tinham liberdade para olhar; reparavam em tudo, sem constrangimento, e, transbordando inocência, puxavam a saia da mãe. E a mãe ordenava:

– Não te aproximes! Ainda apanhas piolhos ou coisa pior.

Se ao menos fosse um cão… um rafeiro, desses que são levados para o canil e podem ser adotados. Sortudos!

E se uma dessas crianças se lembrasse do ceguinho do “Café Vianna” e voltasse atrás para o adotar? Afinal, tinha muito mais para dar, muito mais para além das roupas velhas, das rugas, das brancas, do olhar avariado, dos ossos empenados. Possuía um coração, uma alma, um arquivo com histórias de gente – gente que passa e não vê.

Nem todas as cegueiras eram irreversíveis – achava ele. E esperou. Esperou camuflado… de calçada, calçada suja e gasta, que o tempo esqueceu.

(Suzete Fraga)

Um dos belos contos de Suzete Fraga, presente no seu livro Almas Feridas.

” Almas Feridas é a soma dos mais diversos sentimentos que acabam, inevitavelmente, por nos ferir a alma; moldados pela imaginação, os contos apresentados neste livro caminham de mãos dadas com as nossas fragilidades enquanto seres humanos.

Esta obra mergulha a sangue-frio na sede de vingança e nas relações entre irmãos (bem ao estilo de Caim e Abel), passando pelo dilema da fidelidade no matrimónio. Permite-nos ainda viajar para cenários campestres, recuar no tempo até aos anos 80 do século passado, pregar partidas carnavalescas, espreitar vidas desfeitas pelo álcool e pela violência doméstica, desvendar traições, amores desmedidos, reencontros no Além e narcisismos que levam à loucura, encarar a vida com os olhos de quem não vê, herdar veredictos cruéis, testemunhar actos verdadeiramente altruístas, ler cartas de amor, desfolhar sonhos, sentir a emoção da despedida, conviver com sogras encantadoras, descobrir o dom da humildade ou conhecer videntes muito peculiares.”

O livro pode ser adquirido diretamente com a autora, ou pelo site da editora.

Eis uma das dedicatórias mais carinhosas que já recebi.

A escrita de Suzete é uma delícia de ler – fluída, com conteúdo, emoção e intensidade.

Belíssimos contos!

Mais sobre Suzete Fraga

“Suzete Fraga nasceu no ano de 1978 em Azurém, Guimarães, e reside em Póvoa de Lanhoso (Portugal). Experimentou o árduo calejar da lavoura ainda na infância, aprendendo a usar, desde cedo, a escrita e os sonhos como um escape ou até mesmo como um meio de subsistência existencial.
Tem textos espalhados em colectâneas e antologias de várias editoras e foi distinguida em três concursos literários. “Almas Feridas” é o seu primeiro livro.” (Biografia constante na contracapa de Almas Feridas)

Abaixo, entrevista e artigo sobre a autora na primorosa revista virtual de literatura lusófona SGmag.

Clique aqui para conhecer mais sobre a autora e seus trabalhos em seu perfil do Facebook

Crônica pobre

Era o mác- ximo na favuna… Sabonete Phebo, chique no úrtimo grau e desodorante Avanço.

Você não entende nada de pobre.

As mulhé todas usava um pior ainda…Leite de rosas, não tinha um barraco que não tivesse esse trem.

No sol… A bagaça começava derreter e virava uma desgrama só.

Alcione deve usar até hoje…A marrom.

Como se ninguém visse a cor.Tem que por amarrom? O disco vinha assim… Alcione amarrom

Já cedo… A nega do barraco de cima saia na janela e gritava pra nega do barraco lá dos quintos:

– Shirlei, amarrom no Silvio Santos!!!!

Acordava a favela inteira!

Isso foi antes do celular, depois foi pior, porque as pobre ligava pra Bahia achando que tem que berrar no celular, pra chegar na Bahia o som:

– Maíiinnha, chama painho que to de celulare..

Domingo era o inferno para dormir na favela, tinha o Sidney Magal berrando em todos os rádios…

“é a cigana sandra rosa e madalena”

são três?

“é a mulher com quem eu quero me casar”

Não tinha uma pobra na favuna que não quisesse ser Sandra, Rosa ou Madalena.

Depois teve um português ainda pior…

” OOOO bate o pé, bate o pé,bate o pé”

Mais xarope era impossível!

Os favelados tudo adora essas coisas,

Leal…Roberto e leal…

Domingo era terrível, as tvs ligadas nos zúrtimos volumes, essas bregaiada toda cantando,o Lombardi.

Já cedo a Shirlei grita para Sheila, pobre adora nome americano pra gritar da janela, que soa chique.

Nome estrangeiro,

As mãe punha William, Wellington, Evelym, Elder, e depois berrava, chamando a cambada num taco só:

– Ui, Ue, Eve, El !!!!

A minha economizou que num só Maáaaa, vinha todo mundo pra dentro.Maria, Mário, Mariano.

Tudo com Ma, economiza chamá.

Pobre adora economia.

Soca seis criança no roleta junto e empuuuuurra.

Os menor vai saindo pro lado, por cima do cobrador, os mais rápido passa pru baixo e o maior esbudega nos ferros até a biboca virar, estalando o zóio.

Pronto, paga um filho só.

Eu tenho PHD com pesquisa de campo.

Ano entra, ano sai…E o pobre brasileiro…

Continua igual?

Ingual nada.

Muda tudo, as moda, as música brega, os ônibus…

É cada corte de cabelo pior que outro

A nega passa o ferro no pixaim, até alisar a quiçaça na marra, toca fogo no barraco, sai até fumaça da cabeça da bicha, parece um endemoiniamento.

Eu tinha medo de ver minha irmâ alisar o cabelo,

Despois,não feliz…faz luz.

Dai enche de notrox e sai com aquilo no poeirão esperar o busão da iscola.

Deus!

Vai colando de tudo na moita servagem…

É foia seca, é gaio darve, é chepa do buteco que avoa.

Vai colando lá.

Chega na iscola linda. Parecendo a Flora e fauna.

Você não entende nada de pobre.

E festa de favelado… É quase o inferno na terra.

Começa dez dias antes, cás pobra tudo avisando o morro todo e mais três morro vizinho.

Sai emprestando panela, cadeira, colchão, pra acomodar a cambada, dana fazer enfeite de tudo que é coisa velha, enfeite de garrafa pet, enfeite de papel crepom, enfeite de E.V.A.

O barraco fica pior que uma árve de natal e sete horas da manhã os convidado já vem invadindo tudo, com uma fome do agreste, que pobre nunca come antes de ir em festa dos outros.

Dá-lhe lanche de boi ralado(carne moída se diz) e churrasco trinca dente, que assim demora horas até a gente engolir o nervo da carne e pegar outro pedaço.

Dai é toda a bregada rodando na vitrola…

Amarrom, demonhos da garoa, Magal, sandra rosa e madalena, sabe deus até que horas,

Que pobre não vai embora, vai fazendo mais vaquinha, para comprar mais churrasco, trazendo mais disco brega, chamando mais morro vizinho, roubando todos enfeites,até alguém escorraçar.

Ou até sair uma briga, a acabar no risca faca, no tome bala, no tabefe, na pobraiada correndo e ainda falando mal…

– Já fui em festa miór.

E no entanto eu me orgulho de ter nascido no morro, ter acordado aos domingos, com os gritos na janela, ter vindo do povo pobre, que está sempre brincando e rindo da própria sina.

Eu me sinto abençoado de ter feito meus brinquedos, com alguns papeis coloridos e linha de carretel, pois que eles valeram mais, voando livres no céu.

Eu não troco infâncias ricas, fechadas em condomínios, pela que tive, descalço, com gente humilde e feliz.

Que com qualquer meia boca, faz uma boca completa, uma bela gambiarra, um gato no poste de luz e vai sambando e levando, como der para levar, como der para se virar, com dez filhos na catraca, da grande roleta russa.

Pois como dizia o samba, sabe deus de que breguice…

Quem desce do morro, não morre no asfalto.

(Anjos Urbanos)
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Fonte da imagem: página Anjos Urbanos

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